De slides que cansam a aulas que encantam
- apresenthe
- 14 de dez. de 2024
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O professor Felipe apresentava uma relação com o PowerPoint que era, no mínimo, disfuncional. Para ele, preparar uma aula significava abrir um arquivo antigo, renomeá-lo (geralmente com um título super criativo como “Aula Final Versão 7 DEFINITIVA 2”) ou um arquivo em branco, e começar a digitar. Sem um plano, sem um roteiro, sem sequer uma ideia clara do que queria transmitir. Por vezes, Felipe não se preocupava tanto. Abria o livro que era a principal referência bibliográfica sobre o tema e seguia, ipsis litteris, a organização de assuntos apresentada pelo autor do livro. O resultado era previsível: longas noites diante do computador e apresentações que, digamos, faziam o público ansiar pelo intervalo.
Felipe estava preso em um loop. Cada nova aula era um processo desgastante que começava com a criação frenética de slides e terminava com ele se lamentando que os alunos da atual geração são péssimos e ninguém presta atenção.
Os slides? Um show de horrores. Textos longos, imagens com baixa resolução e uma confusão entre cores que sangravam os olhos de alguns. Pior: ele gastava horas com o ajuste de margens e alinhamentos das caixas de texto, convencido de que a “beleza” salvaria sua mensagem. Por beleza, lembremos que cada pé de chinelo velho tem seu par, então a subjetividade não deve ser questionada. Não deve? Deve sim. Beleza NÃO É relativa. Slide feio é feio em qualquer lugar desse planeta, mas isso não é o foco dessa história. Voltemos...
Enquanto preparava suas aulas e palestras, sua vida pessoal sofria. A esposa reclamava que ele estava sempre ocupado, os filhos mal o viam, e até o cachorro o encarava como um estranho. Um dia, ao compartilhar essas questões particulares com Pablo, um amigo também professor, escutou:“Por que você faz slides antes de saber o que quer dizer?”
Felipe não curtiu muito ouvir isso e ficou até ofendido. Afinal, ele era um acadêmico respeitado! O que isso tinha a ver com os problemas pessoais que acabara de compartilhar? Pensou imediatamente que o amigo sentia inveja da sua dedicação às aulas e palestras que ministrava. De qualquer maneira, relutante, ouviu. Pablo explicou que apresentações bem-sucedidas começavam no papel (ou no editor de textos, ou bloco de notas digital) e que a chave para não perder tanto tempo na construção de slides era o ROTEIRO: um mapa, dividido em três atos clássicos: introdução, desenvolvimento e conclusão.

Ao elaborar um roteiro, Felipe poderia definir a mensagem central da sua apresentação: o que as pessoas deveriam lembrar ao término daquela sua aula ou palestra? Após isso, precisava criar a estrutura narrativa: quais ideias deveriam vir primeiro, quais reforçariam o entendimento e quais seriam a cereja no bolo? Para que o entendimento fosse fluido, deveria preocupar-se com a transição entre os tópicos: como conectar os pontos sem deixar lacunas no raciocínio?
Relutante, o Felipe tentou. Sentou-se em frente ao computador com o seu Microsoft Word® aberto e escreveu suas ideias principais antes de sequer tocar no PowerPoint. Com o roteiro pronto, criar os slides foi uma tarefa infinitamente mais rápida e objetiva. Nada de copiar e colar blocos inteiros de texto ou passar horas brigando com a formatação. Cada slide tinha um PROPÓSITO claro e começou a visualizar que suas aulas poderiam fluir como uma CONVERSA bem ensaiada.
O impacto foi imediato. Tanto seus alunos na faculdade, quanto o público dos eventos em que palestrava pareciam entender melhor e até gostar mais do material apresentado. Além disso, ele reduziu o tempo de preparação em mais da metade e finalmente voltou a ter tempo para curtir sua família e até caminhar com o cachorro.
A preparação de um roteiro antes de criar materiais visuais melhora significativamente a RETENÇÃO de informações. Quando o cérebro não é bombardeado por estímulos desordenados, ele processa a mensagem com mais clareza e rapidez. O roteiro permite que o professor e o palestrante concentre-se no como ENSINAR em vez de perder tempo no como APRESENTAR. Quando a base está sólida, os slides se tornam um COMPLEMENTO, não uma muleta.
O professor Felipe aprendeu que planejar a mensagem era mais importante do que encher os slides de dados. Assim, ao trocar a ordem: primeiro o roteiro, depois os slides, Felipe descobriu que ensinar não precisa ser um fardo.

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