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Paraquedas



Em dezembro de 2018, Roberto Yeh e Linda Valdosttir tiveram seu artigo sobre a importância do uso do paraquedas na prevenção de mortes ou traumas severos para o caso de pessoas que resolvam pular de uma aeronave, publicado na revista The BMJ. Você, em qualquer momento da sua vida, imaginaria que esse item poderia ser dispensável?

 

Apesar do uso consagrado do paraquedas por pessoas que saltem de aeronaves, a evidência que sustenta a necessidade do seu uso é pobre. Os autores começam o artigo com essa afirmação e, apesar de parecer estranho ou completamente insano, não tire conclusões precipitadas.

 

Este estudo contou com consideráveis 92 pessoas que se dispuseram a ser triadas para a verificação de atenderem aos critérios de inclusão. Como este estudo era randomizado, a amostra que preencheu os requisitos, 23 indivíduos, foi dividida em dois grupos: um que utilizaria o paraquedas e outro que utilizaria uma mochila vazia.

 

O mais incrível foi o que ele descobriram: nenhuma diferença estatisticamente significativa foi verificada entre os grupos. Com essa descoberta, os autores sugerem de forma explícita que a defesa para o uso do paraquedas deveria ser reconsiderada para o caso de saltos de aeronaves, seja para finalidades recreativas ou militares. Adicionalmente, os autores sustentam que a não utilização de paraquedas poderia representar uma economia global da ordem de bilhões de dólares.

 

Uma consideração relevante é que o salto da aeronove foi a uma altura de 60 centímetros com uma velocidade média de deslocamento de 0km/h.

 


Mais adiante, os autores alertam na discussão: o estudo apresentam várias limitações e talvez a primeira e mais importante seja que as descobertas podem não ser generalizáveis ​​para o uso de paraquedas em aeronaves que estejam em altitudes ou velocidades diferentes.

 

Ironia pouca é bobagem e, sim, este artigo foi publicado!  Acredito que os autores conseguiram ser muito bem sucedidos na intenção de criticar alardes constantes feitos por aí por pessoas que mal lêem a parte mais importante dos estudos: a metodologia, vulgo materiais e métodos dos trabalhos.

 

Não se faça de sonso ou sonsa e nem venha com o papo de que você sempre leu artigos na íntegra. Sabemos que não.

 

Sem quase dúvida alguma, você fez trabalho de conclusão de curso, talvez monografia de especialização, dissertação de mestrado ou até tese de doutorado com a leitura, de alguns artigos, restrita ao resumo e conclusão. Se você não se identifica com nada disso que falei, aquelas salva de aplausos para Vossa Excelência.

 

O estudo do paraquedas pode parecer bobo, mas não é. A bola levantada pelos autores merece reflexões. Se a nossa ciência é, por muitas vezes, realizada sem a consideração de detalhes de crucial importância, como garantir que aquilo que é anunciado no título ou nas conclusões seja realmente de confiança? Se o método não é avaliado com critério como garantir qualquer coisa que o estudo diga?

 

O simples fato de um estudo ter sido publicado também não é garantia absoluta de sua qualidade. Infelizmente existem muitos periódicos que fizeram da publicação de artigos um negócio bem lucrativo: programas de pós-graduação exigem publicações, algumas revistas exigem dinheiro, dois lados dessa história felizes com os resultados práticos de seus esforços.

 

E isso acontece somente na área acadêmica? Claro que não. Quantas foram as vezes que você leu ou trocou algumas ideias com pessoas que leram somente as manchetes de algum portal de notícias? Um salve à superficialidade das informações. Ler a notícia na íntegra também só lhe garantirá, quando muito, alguma informação sob o viés do jornalista que escreveu a matéria, mas ler mais é infinitamente melhor do que ler títulos, manchetes, resumos e conclusões.


Quanto maior for o seu conhecimento e criticismo sobre qualquer coisa, menor será o seu risco de saltar de um avião em pleno vôo com uma mochila VAZIA.



 
 
 

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